quinta-feira, 24 de abril de 2014

Fragilidade

Por trás da fachada de durona e bem sucedida está a mais pura fragilidade. Havia tempos que tantas lágrimas não desciam. Talvez estavam bem ali, acumuladas, brilhantes, loucas por sentir a brisa nem sempre agradável do exterior.
(Dos idos tempos das Memórias da Menina Solitária vem a escrita livre. Os escrita de livre associação, automática. Ok, nem tão automática assim... Freud não faria por escrito, o voluntário mascara o inconsciente. Daqui pra frente, o estado de semi-sono prevalece e o texto tornar-se-á imprevisível.)

Paulada, pancada, provação, teste. Confusão de idéias, sensação de egoísmo, pecado, fala comedida e cercada de medo. Medo de magoar (o que faço muito bem com quem amo), de falar o que realmente vem à cabeça. Os olhos se fecham, inchados e vermelhos, próximos ao travesseiro úmido em salmoura. Soluços. O nó aperta a garganta, uma vontade louca de falar pra alguém, desabafar, e a tecnologia facilita a escrita, já que a voz não sai. Os olhos de quem está longe em distância mas sempre junto de coração acompanham minha agonia de dígitos trêmulos e palavras erradas. Mas mesmo assim a verdade não sai. Ela traz vergonha de tantos pensamentos baixos (com filtro do consciente) e fortes, incontroláveis.
Aconteceu o que aconteceu, como diria Marisa Monte. E me abalou. Me tirou do aparente conforto, da alegria dos acontecimentos da manhã. Foi o meio dia (ou 13 horas?) mais duro dos últimos tempos. A ligação despretensiosa teve como resposta um solavanco e muitas lágrimas.
Fui acolhida, escutada, em meio a soluços em uma sala imediatamente trancada frente ao meu descontrole. Agradecimento imenso... Mas mesmo hoje, 36 horas depois, ainda sinto os olhos marejarem.
O que não falo e quase não admito nem pra mim mesma é a vontade de cancelar tudo, desistir, terminar o que foi aliançado e partir para um novo mundo de céu azul, fontes cantantes e enfeitado por um lindo arco-íris. O semi-sonho virou pesadelo, peso dele, pesado demais pra ela.
Os óculos que embaçam na piscina, o rosto queima. O choro tira as forças necessárias à escalada das escadas. E uma mensagem vem, de remetente desconhecido, cair feito luva, carapuça de medidas exatas.
Desânimo, depressão, ligações para um psicólogo que nunca atende.
Acabou a admiração, morreu um ídolo pra mim. Virou um lixo, um estorvo. O julgamento paternal, sem nem saber qual seria, já doía, castigava. E nem veio com tanta dor. A possibilidade de adiamento sugerida trouxe mais choro. Porque no fundo, era vontade cancelar tudo. A mensagem foi das mais difíceis de se escrever; a resposta veio imediata, compreensiva, calmante. Tinha que ser por escrito... Mas depois por telefone. Meio sem palavras, compreensivo.
A amiga-irmã carinhosa consola, quase pude sentir suas mãos me abraçando e afagando meu cabelo em solidariedade confortadora a tantos e tantos quilômetros de distância... E ainda que muito frágil e fraca, vou buscando forças não sei de onde, em meio a teclados, telas, telefones e solidão.
Vai passar. Um dia.

2 comentários:

Thais Rios disse...

Oi, me identifiquei bastante com seu texto, talvez por ta passando por uma situação assim, queria saber escrever assim para expor o que sinto, para desabaar de alguma forma, afinal é assim que me encontro agora, uma menina solitaria, sem amor sem amigos,penas meus pais, sei que eles já eram pra bastar mas eles não são pra sempre!

Solitaire disse...

Thaís,
Escrever é um exercício muito interessante para acalmar, aliviar conflitos internos, ajudar a elaborar o pensamento... E escrever anonimamente traz uma sensação de libertação muito confortante.
Tente, sem se criticar. Escreva como se ninguém fosse ler. E o pensamento sai pelas pontas dos dedos.