sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

I can't get no... satisfaction...

A música é antiga. Mas o problema permanece contemporâneo. A insatisfação constante assombra. Talvez seja trazido por perfeccionismo, neurose, distúrbio obsessivo-compulsivo ou simplesmente um quadro depressivo. Ou por pressão consumista que a vida moderna impõe. A questão é que a constante insatisfação assombra muitos distraídos por aí.
Cada sujeito tem sua visão da vida e sentimentos próprios... Mesmo tendo esta consciência, me assusto com meus próprios pensamentos de insatisfeita. Não basta realizar um desejo, uma vontade. A sensação de realização passa, e rápido. Logo a insatisfação vem de novo e com ela a inveja (palavra dura, mas necessária no contexto) da vida alheia, das benesses e bens alheios, e novos desejos brotam.
É aquela viagem que sua amiga fez, o carro que seu chefe comprou, o apartamento que um conhecido adquiriu, a jóia da sua colega que é mais bonita que a sua, o amor que alguém experimenta de forma plena. Isso incomoda e muito. Nada nunca é suficientemente bom, Por que as coisas são assim?! Essa angústia gera uma sensação de autopunição, de incompetência, fragilidade.
TPM?
Talvez.
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Escritos de um dia desses

É engraçado como as coisas acontecem... Esbravejo e praguejo a vida e ela vai lá e me passa uma lição.  Imagine dia profundamente estressante, permeado por episódios de taquicardia, descontrole e irritação. Um dia chuvoso de trânsito complicado, de ausência de sinal de celular, de esquecimentos e desencontros. Daqueles que nem fariam falta se não tivessem acontecido. A reunião acabou muito tarde, infelizmente já não havia temo hábil para exercitar o corpo, depois de tanto desgaste mental. A opção era abastecer o carro, que andava há muito com combustível ínfimo, descansar ao som da chuva infinita e preparar para a nova batalha no dia seguinte. Paguei o que devia ao frentista e ao relancear percebi um homem sentado no chão próximo à loja de conveniência. Muito sujo, molhado, tremia e resmungava, embora fosse de uma docilidade comovente. Ele se virou e pude ver o sangue vivo brotando de seu rosto ferido. Susto, repulsa, compaixão se mesclaram, ninguém conhecia o rapaz. Aparentava 40 e poucos anos, olhava perdido com um saco plástico e dois guarda-chuvas nas mãos. Exalava bebida alcoólica e tinha fala descoordenada e gaguejante. Não tive coragem de ir sem fazer nada por aquele ser. Liguei para o serviço de urgência e embora o local não fosse fechar, resolvi aguardar a ambulância. Um rapaz ofereceu comida e um chocolate quente, ele comeu satisfeito. Depois brincou com um chinelo velho, me mostrou que estava com frio e me pediu um agasalho. Aos poucos, agachada, fui tentando entender o que havia acontecido... Quase ininteligível, gaguejante, ele contou gesticulando e balbuciando que era morador de rua, bebeu muito e caiu. Ameaçava levantar, limpava o chão com o chinelo, mas obedecia quando o pedia para ficar calmo e aguardar cuidados médicos. Pude enxergar um sorriso sofrido em meio àquele rosto manchado de sangue coagulado, passivo, agradecido. Logo a ambulância chegou, acolheram o rapaz, limparam os ferimentos e ali mesmo me despedi com um aceno. Voltei pra casa pensativa, agradecida e tocada por poder ter vivido um dos fins de dia mais atípicos dos últimos tempos. E de repente o cansaço passou, meu coração teve paz e um sentimento indefinido intenso fez meus olhos marejarem.