Era um dia comum, como tantos outros. Cheio, cansativo, que começou com café forte e coletivo cheio. Como de costume, no corrido intervalo de almoço, uma ligação ao celular permeava os passos rápidos em meio aos carros e pessoas igualmente apressadas. O repertório da conversa não foi bom. De um lado a voz embargava, refletindo em lágrimas do outro. A caminho da mesa do refeitório, com prato e talheres em mãos, as lágrimas cairam sobre o alimento, a face corou, e a tristeza deu o tempero daquele almoço em meio a desconhecidos.
Na mesa compartilhada, sentou-se ao lado de duas senhoras que conversavam com a tranquilidade e a serenidade que seus cabelos brancos lhes davam.
Entre olhares solidários e curiosos, a pergunta: É amor? A voz rouca sorriu chorosa e surpresa, disse que não, obrigada. Algumas garfadas depois, a senhora sorri e novamente indaga: posso te dar um presente? A face interrogativa e surpresa esboçou um sorriso tímido e acedeu entre murmúrios. Você trabalha aqui? Minha filha também. Ela escreveu esse livro, esteve muito doente e curou-se. Hoje ela conta às pessoas como foi essa época difícil que começou com uma tentativa gestação, passando pela descoberta do tumor, até a cura plena. Ela dá palestras também. Você deve ler rápido, o livro é bonito, fácil de ler e tem fotos. Olha como ela é bonita! Não sei o que te aflige, mas passa. Deus está no comando sempre. Preciso falar d'Ele, não sei se você acredita. Qual o seu nome? O meu é Flor. Tem meu telefone aqui no livro. Pode ligar se quiser. Tenho que ir. Que Jesus te abençoe.
E saiu com a leveza de um anjo, acompanhada pela amiga.
Sobre a mesa, um livro, lágrimas, talheres no ar e a sensação de que Alguém lá de cima havia enviado aquele carinho pra quem precisava tanto.